domingo, 4 de janeiro de 2015

Violência Gera Violência


        No Nosso humilde sentir, gerenciar coisa pública exige amor pela causa, compromisso, inteligência, planejamento e extrema humildade, o que nem sempre acontece nesse governo estabelecido e dos amigos, pessoas outrora simples e solícitas, quando investidas nas altas funções de Secretário de Estado sofrem uma incompreensível metamorfose, como a comprovar a afirmação de Paulo Freire, que em seu livro a Pedagogia do Oprimido verbera que todo oprimido traz em seu âmago um opressor sanguinário e insolente, bastando surgir a oportunidade para que exteriorize esse pedante, soberbo e presunçoso déspota.
        Observei esse fenômeno que foi com jactância incorporado e vivido pelo Ex-secretário da Administração Penitenciária do Estado da Paraíba, Delegado de Polícia Civil Walber Virgolino, pessoa de fácil trato, mas que picado pela mosca azul e embriagado pelo deslumbramento do poder, igual ao plebeu do poema de Machado de Assis, que ao deparar-se com a mosca azul, vislumbrou-se soberano de vasto império, um rei cercado por mulheres e empregados, amado por todos, glorioso vencedor de batalhas, ilusão que lhe custa a santidade. Como se suas entranhas pudessem explicar o motivo de tamanha beleza, a mosca é dissecada pelo pobre carpinteiro, que nada vê além de um inseto morto, baço asqueroso. Dizem que ensandeceu e que não sabe como perdeu a sua mosca azul.
Tive essa impressão de que somente uma sandice inominável poderia explicar o que ocorreu no dia 07 de setembro de 2014, na Rua Duarte da Silveira, quando vários carros pretos, lúgubres e propositadamente fúnebres, com agentes penitenciários vestidos com temíveis uniformes pretos e portando armas de grosso calibre, num espetáculo nazi-fascista, exatamente quando se comemorava a independência do Brasil, desfilavam garbosa e desafiadoramente por aquela importante avenida da nossa capital. Naquele momento descobri que alguém estava profundamente doente, com terríveis alucinações, delírios, miragens, devaneios, tudo isto causado pela picada da mosca azul palaciana.
         A coisa piorou, se agravou e febrilmente, de forma quixotesca, o Secretário inebriado pelos falsos elogios de uma imprensa reverente ao mandante de plantão, ecoou a todos os pulmões, que a repressão a motins de presos ou rebeliões tinha que ser violenta, na base do cassetete e de balas de borracha, para doer até sangrar, pois ali não existiam parentes seus e nem mesmo ele estava segregado. Até aí tudo normal, se essa ignomínia fosse discursada por alguém estranho ao sistema, mas nunca a ele que tinha todas as regalias de um Secretário de Estado e o dever constitucional de proteger esses homens presos, independentemente de serem criminosos hediondos ou não, e ao se comportar dessa forma, desceu ao mais baixo nível do plebeu do imorredouro Machado, o mestre da nossa literatura.
Walber Virgolino demonstrou despreparo para o cargo, quando desconhece o mandamento constitucional de que críticas ao homem público, mesmo que ácidas não constituem nenhum ilícito, mas mesmo assim, de forma tacanha e nanica, atravessou uma ação de indenização por danos morais contra a Conselheira Estadual dos Direitos Humanos Laura Berquó, mulher de brios, pois determinada e comprometida com seus ideais, que é a causa da defesa do respeito á dignidade humana, uma causa difícil, cujo defensor precisa ter formação moral sólida, consistente, para não cair na vala comum dos covardes que possuem na ponta da língua um discurso peçonhento de agressão às mulheres e homens de bem que não se curvarão nunca às estultices e vitupérios dos que se encontram em devaneios por conta da picada da mosca azul.
        O Ex-secretário ao invés de resolver a situação vexaminosa da revista invasiva, preferiu somar ao cordão de servidores que de forma sádica entendem que a revista invasiva é também uma forma de vingança e deixou o governo que se diz republicano no mesmo nível daqueles que de formação direitista e conservadora, deixaram que famílias inteiras de segregados fossem marcadas para sempre pela infamante revista invasiva e bestial.
O erro de Laura Berquó, foi fazer um comentário num humilde texto por mim escrito, no qual afirmei que as rebeliões e motins eram dolosos, pois, ao se nomear torturadores para cargos em comissão, a exemplo de Dinamérico Cardin e espancador notório para direção de um presídio, só pode ser alguém que por crueza, de forma subliminar, deseja ver a revolta despertada nos internos, por conta de atos equivocados levados à efeito por seus prepostos, a exemplo de psêudos atos de disciplina (raspar cabeças) que visam despertar a ira de quem já se encontra sentenciado, bem como de proibição de visitas, de entrega de comidas, o que como já dito, visam a despertar raiva e motins, tudo adredemente e desapiedadamente pensado, para que a feroz repressão por tropas de elite tivesse lugar.
O arrebatamento e encanto pelo poder era tão inqualificável, que Walber Virgolino, ao invés de arreganhar os portões de suas cadeias para demonstrar que nada de errado ali se praticava, chegou a levar ao próprio governador a relação dos Conselheiros dos Direitos Humanos questionando a legitimidade de suas nomeações, ocupando o Chefe do Executivo Estadual com uma questão que poderia ser substituída pela apresentação de um projeto de ressocialização, mas como ele nunca teve esse projeto, por pura incapacidade de gestá-lo, entendia que proibir Conselheiro dos Direitos Humanos de entrar em instituições penais seria um grande feito e sem saber, no seu pileque de poder, perdia forças e confiança junto ao chefe maior ao ocupá-las com assuntos tão liliputianos, questão que o CEDHPB de forma vertical enfrentou e nem sequer deu satisfação dos seus atos a tão acabrunhante questão.
         De forma que o poder desgraçadamente subiu à cabeça do Ex-secretário, que ensandecido criava grupos repressores dentro do Sistema Penitenciário como a dizer a outro secretário, “eu aqui tenho outra polícia mais equipada até mesmo do que a sua e também posso reprimir e prender, até núcleo de inteligência eu tenho, igualzinho a você” e para curar a doença foi necessário a ministração do antídoto da exoneração, da dispensa pura e simples, enviando-lhe de volta à titularidade de uma delegacia de polícia, onde talvez seja despertado do terrível torpor pelos gritos desesperados de socorro do povo, cujo ruído o poder que lhe embriagou lhe impediu de ouvi-los há algum tempo e posa retornar a realidade do mundo dos vivos e dos comuns.
          Marinho Mendes - Conselheiro Estadual dos Direitos Humanos da Paraíba.

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