quinta-feira, 31 de maio de 2012

Religiosidade, Campanha Política antecipada e Justiça adormecida


Religiosidade, campanha política antecipada e Justiça adormecida.

Para a Igreja Católica os meses de maio e junho são de muitos eventos religiosos, isso faz parte dos movimentos populares.
O mês de maio é dedicado à Maria mãe de Jesus; é o mês mariano. Na maioria das comunidades do interior do Nordeste a devoção à Maria Santíssima é exortada nos milhares de terços rezados em todas as suas Igrejas.
Após os trinta e um dias de noitários celebrativos realiza-se a queima das flores que foram utilizadas durante o decorrer do mês. A queima é celebrada com muitas honras; filhos ilustres e autoridades diversas são convidadas para esses momentos especiais para as comunidades. Como pessoas ilustres e autoridades possuem uma agenda sempre cheia e não podem estar em um mesmo momento em vários lugares, a queima de flores ocorrem também durante todo o mês de junho e às vezes se estendem até o mês de julho.
O mês de junho também é um mês bastante celebrado, nele se homenageiam três Santos importantes no cenário da Igreja Católica, Santo Antônio (12), São João (24) e São Pedro (29). Essas três datas somadas a queima de flores e o período de colheita na agricultura, fazem dessa época a segunda mais animada de todo o ano; tanto, que as empresas e prefeituras emitem o 13º salário em duas parcelas, a primeira em junho e a segunda em dezembro.
Durante os anos em que não há campanha política essas celebrações acontecem com naturalidade e simplicidade, com o envolvimento apenas das pessoas das comunidades. Porém, no ano em que acontecem as eleições, em especial para a escolha de prefeitos e vereadores, é comum a presença de políticos nesses eventos; todos querendo um espaço para aparecer. Organizam procissões, participam nas liturgias, comentários e tudo mais. Até aí, nada anormal, seria até salutar esse interesse pela religiosidade popular, participando, reanimando estes sentimentos nas pessoas, mas, em muitos lugares, a intromissão de agentes políticos acontecem de modo exagerado.
As comunidades na ânsia de um grande público e angariamento de ofertas, organizam esses noitários e os atribui às autoridades, empresas, grupos e organizações diversas. Dessa forma, cada um quer tornar a sua noite mais festiva, participativa, organizada, criando uma competitividade, e, em tempo de eleição, nem se fala, vale tudo!
No início desta semana, última do mês de maio, no Município de Jacaraú, cidade localizada na região norte à 86 km da capital João Pessoa, para a participação nesses eventos, foram organizadas algumas grandes carreatas políticas. Mas, o que nos fez chegar a conclusão de que houve carreata política e não carreata religiosa, como querem nos fazer acreditar? Ora, foi evidente e (enfim) notório por grande parte da população jacarauense. Uma grande quantidade de carros e motos, (sempre acima de cem veículos), sempre liderados pelos pré-candidatos a cargos eletivos, fogos de artifícios,(um verdadeiro show pirotécnico a todo momento), os barulhos feitos pelas buzinas dos automóveis...
Mas, o mais absurdo de tudo, pasmem os senhores e senhoras, foram os relatos que surgiram por parte dos populares após esses movimentos; segundo esses, uma suposta distribuição de vale- abastecimentos foram oferecidos aos proprietários de automóveis e motocicletas para a participação nas carreatas. Não podemos afirmar se o fato é verdadeiro, mas é o boato mais falado nas rodas de fofocas da Cidade e como diz o ditado: “Onde há fumaça, há fogo!”
O fato é que, não se fala em outra coisa nas rádios e nas redes sociais. Um verdadeiro jogo de empurra-empurra, onde o sujo fica falando do mal lavado. Todos tentam se defender do indefensável. Menos ou mais, exageros à parte, o caso é que todos os lados vêm desrespeitando a Justiça Eleitoral.
Campanha eleitoral fora de tempo, discursos inflamados, propagandas e insinuações exaltadas até na tribuna da Câmara de vereadores, pichação de muro e agora o máximo da baixaria política, a apelação religiosa, onde vale até mesmo o uso de imagem de santos para burlar a lei, na tentativa de mascarar uma carreata política; subestimando a inteligência alheia para camuflar o que está mais do que evidente.
Tão evidente que a Justiça nesta quarta-feira proibiu mais uma “carreata” que sairia da casa da prefeita Maria Cristina para o noitário do Sítio Lagoa de Dentro. Ambos os partidos foram notificados e advertidos, esperamos que surta algum efeito. Estranho, é que mesmo diante de todos as negativas dos correligionários da prefeita Cristina de que não houve carreata política, nenhum movimento se fez por parte deles para esse último noitário. Ora, se antes o que houve foi apenas o “acompanhamento em carreata dos amigos da prefeita a um evento religioso do qual ela seria a organizadora”, como disseram, o que os impediram de fazê-lo novamente?
Nos principais noticiários ficou nítido o repúdio ao circo que se armou em Jacaraú nos últimos dias. Michele Marques, conceituada radialista da Rádio Talismã FM, chegou a se perguntar aquilo que a nós ainda é uma incógnita. O que esperar da Justiça?, do TRE?, onde está a vergonha desses líderes políticos que não respeitam as leis, muito menos o povo que dizem querer defender? Onde está o ilustríssimo senhor Promotor de Justiça, tão combatente, mas tão ausente nesses momentos? E a Igreja Católica, qual seu posicionamento diante de tudo?
Ansiosos por um posicionamento mais efetivo e duro por parte da Justiça Eleitoral, participamos alheios dessas balbúrdias, mas não podemos nos calar diante de tamanhos absurdos. E a pergunta que não quer calar é: Até onde vai tudo isso?
Enquanto isso ficaremos aqui, de olhos abertos na terra do pão e do circo, aguardando pelos próximos capítulos dessa novela.
Januário Neto.





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