Religiosidade,
campanha política antecipada e Justiça adormecida.
Para a
Igreja Católica os meses de maio e junho são de muitos eventos
religiosos, isso faz parte dos movimentos populares.
O mês
de maio é dedicado à Maria mãe de Jesus; é o mês mariano. Na
maioria das comunidades do interior do Nordeste a devoção à Maria
Santíssima é exortada nos milhares de terços rezados em todas as
suas Igrejas.
Após os trinta e um dias de noitários celebrativos realiza-se a
queima das flores que foram utilizadas durante o decorrer do mês. A
queima é celebrada com muitas honras; filhos ilustres e autoridades
diversas são convidadas para esses momentos especiais para as
comunidades. Como pessoas ilustres e autoridades possuem uma agenda
sempre cheia e não podem estar em um mesmo momento em vários
lugares, a queima de flores ocorrem também durante todo o mês de
junho e às vezes se estendem até o mês de julho.
O
mês de junho também é um mês bastante celebrado, nele se
homenageiam três Santos importantes no cenário da Igreja Católica,
Santo Antônio (12), São João (24) e São Pedro (29). Essas três
datas somadas a queima de flores e o período de colheita na
agricultura, fazem dessa época a segunda mais animada de todo o ano;
tanto, que as empresas e prefeituras emitem o 13º salário em duas
parcelas, a primeira em junho e a segunda em dezembro.
Durante os anos em que não há campanha política essas celebrações
acontecem com naturalidade e simplicidade, com o envolvimento apenas
das pessoas das comunidades. Porém, no ano em que acontecem as
eleições, em especial para a escolha de prefeitos e vereadores, é
comum a presença de políticos nesses eventos; todos querendo um
espaço para aparecer. Organizam procissões, participam nas
liturgias, comentários e tudo mais. Até aí, nada anormal, seria
até salutar esse interesse pela religiosidade popular, participando,
reanimando estes sentimentos nas pessoas, mas, em muitos lugares, a
intromissão de agentes políticos acontecem de modo exagerado.
As comunidades na ânsia de um grande público e angariamento de
ofertas, organizam esses noitários e os atribui às autoridades,
empresas, grupos e organizações diversas. Dessa forma, cada um quer
tornar a sua noite mais festiva, participativa, organizada, criando
uma competitividade, e, em tempo de eleição, nem se fala, vale
tudo!
No
início desta semana, última do mês de maio, no Município de
Jacaraú, cidade localizada na região norte à 86 km da capital João
Pessoa, para a participação nesses eventos, foram organizadas
algumas grandes carreatas políticas. Mas, o que nos fez chegar a
conclusão de que houve carreata política e não carreata religiosa,
como querem nos fazer acreditar? Ora, foi evidente e (enfim) notório
por grande parte da população jacarauense. Uma grande quantidade de
carros e motos, (sempre acima de cem veículos), sempre liderados
pelos pré-candidatos a cargos eletivos, fogos de artifícios,(um
verdadeiro show pirotécnico a todo momento), os barulhos feitos
pelas buzinas dos automóveis...
Mas, o mais absurdo de tudo, pasmem os senhores e senhoras, foram os
relatos que surgiram por parte dos populares após esses movimentos;
segundo esses, uma suposta distribuição de vale- abastecimentos
foram oferecidos aos proprietários de automóveis e motocicletas
para a participação nas carreatas. Não podemos afirmar se o fato é
verdadeiro, mas é o boato mais falado nas rodas de fofocas da Cidade
e como diz o ditado: “Onde há fumaça, há fogo!”
O
fato é que, não se fala em outra coisa nas rádios e nas redes
sociais. Um verdadeiro jogo de empurra-empurra, onde o sujo fica
falando do mal lavado. Todos tentam se defender do indefensável.
Menos ou mais, exageros à parte, o caso é que todos os lados vêm
desrespeitando a Justiça Eleitoral.
Campanha eleitoral fora de tempo, discursos inflamados, propagandas e
insinuações exaltadas até na tribuna da Câmara de vereadores,
pichação de muro e agora o máximo da baixaria política, a
apelação religiosa, onde vale até mesmo o uso de imagem de santos
para burlar a lei, na tentativa de mascarar uma carreata política;
subestimando a inteligência alheia para camuflar o que está mais do
que evidente.
Tão
evidente que a Justiça nesta quarta-feira proibiu mais uma
“carreata” que sairia da casa da prefeita Maria Cristina para o
noitário do Sítio Lagoa de Dentro. Ambos os partidos foram
notificados e advertidos, esperamos que surta algum efeito.
Estranho, é que mesmo diante de todos as negativas dos
correligionários da prefeita Cristina de que não houve carreata
política, nenhum movimento se fez por parte deles para esse último
noitário. Ora, se antes o que houve foi apenas o “acompanhamento
em carreata dos amigos da prefeita a um evento religioso do qual ela
seria a organizadora”, como disseram, o que os impediram de fazê-lo
novamente?
Nos
principais noticiários ficou nítido o repúdio ao circo que se
armou em Jacaraú nos últimos dias. Michele Marques, conceituada
radialista da Rádio Talismã FM, chegou a se perguntar aquilo que a
nós ainda é uma incógnita. O que esperar da Justiça?, do TRE?,
onde está a vergonha desses líderes políticos que não respeitam
as leis, muito menos o povo que dizem querer defender? Onde está o
ilustríssimo senhor Promotor de Justiça, tão combatente, mas tão
ausente nesses momentos? E a Igreja Católica, qual seu
posicionamento diante de tudo?
Ansiosos por um posicionamento mais efetivo e duro por parte da
Justiça Eleitoral, participamos alheios dessas balbúrdias, mas não
podemos nos calar diante de tamanhos absurdos. E a pergunta que não
quer calar é: Até onde vai tudo isso?
Enquanto isso ficaremos aqui, de olhos abertos na terra do pão e do
circo, aguardando pelos próximos capítulos dessa novela.
Januário Neto.
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